segunda-feira, 18 de julho de 2011

O misterioso

Cris Challoub

Foi a primeira vez que o vi naquela festa, em meio a tantas pessoas sem graça que só tentavam impressionar umas às outras por apenas uma noite e mais nada, nossos olhares se cruzaram de forma tão avassaladora que foi capaz de paralisar tudo a minha volta. Era como se eu tivesse sentido tudo pela primeira vez, os melhores sentimentos que rondam o mundo estavam exaltados por aquela flertada.
O observara o tempo todo, e soletrava algumas palavras para o meu eu como se fosse a primeira vez que as tivesse pronunciado. Suas mãos eram simétricas e comportavam um dry martini como um convite de boas vindas. E eu estava ali, no bar mais próximo, esperando o seu convite para uma conversa ou só uma chance para passar meu telefone e ele me ligar, numa madrugada, para tomar um vinho e depois acordar ouvindo bonjour daqueles lábios convidativos.
As horas passavam e eu continuava intacta observando cada passo que ele dava, até porque não bastava seu um e oitenta de altura, cabelos negros e ar misterioso, aquele homem tinha de ter algum defeito. Mais voltas os ponteiros davam, mais qualidades eram despertadas e menos coragem eu tinha para arranjar uma desculpa e falar com aquele homem.
Continuava no bar, pensei em confundí-lo com um ator ou elogiá-lo pelos seus sapatos bem lustrados e aproveitar para lhe oferecer um drink. Um homem desses é tudo o que eu pedi em oração; quieto, na dele, não dava bola para o rebolado daquelas que tentavam impressionar.
Decidi ser uma mulher e parar de ser a garota de mãos atadas com sua paixão platônica. Levantei do meu recinto cruzando aquele salão repleto de homens com cervejas baratas e segui meu caminho, que era a sua direção. Dei uma parada para que os batimentos cardíacos voltassem ao normal, mesmo sabendo que depois daquele dia nada seria consideravelmente normal em minha vida. Enquanto meus pés não me mexiam vi que um homem se aproximava, não de mim, mas dele, que ao vê-lo abriu um sorriso e ao chegarem perto, deram as mãos e um afago nos cabelos. É, tava bom demais pra ser verdade...

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