quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Meu reflexo



Aquela com quem você anda de braços dados por todo canto;
Aquela que te dá toques sobre roupas, pessoas, corte de cabelo e comportamento;
Aquela melosa, que gosta de abraçar e mandar recadinhos de amor;
Aquela pra quem você conta absolutamente tudo, e sente que foi entendida, e sai aliviada;
Aquela que te dá broncas e manda você parar de roer as unhas;
Aquela que não tem vergonha de dizer que te ama;
Aquela que passa com você o momento mais difícil da sua vida;
Aquela que abraçou em silêncio e sentiu você chorar;
Aquela que te indica ginecologista;
Aquela que mostra o lado bom de todas as coisas;
Aquela por quem seu coração fica pequenininho de saudades;
Aquela que você não consegue ficar um dia sem falar;
Aquela que quando te abraça o mundo gira devagar;
Aquela que não importa mais nada quando você a tem por perto;
Aquela que você faz tudo, sem vergonha e nunca se arrepende
Simplesmente AQUELA!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Autora: Fernanda Mello

Sou avessa à equações, fórmulas e respostas certas. Não gosto de nada definido. Certezas não me calam. Talvez - por ser uma eterna questionadora e reverenciar o que não se explica - eu deva admitir, com respeito: sempre me atraiu o conceito do caos. Não me entendam mal, por favor. A palavra, por si só, já me traz simpatia: "caos" era usada pelos gregos como sinônimo de fenda ou espaço infinito. A simples idéia me encanta. E não é só isso. A teoria confirma a natural instabilidade do mundo (e de nós mesmos): há ordem na desordem e desordem na ordem. Viu só? Pra mim, nada pode ser tão real. E inspirador. Parece loucura? Olhe, então, a vida se desenrolar lá fora. Ou atreva-se e vire para você mesmo. Previsões falham. Resultados nos surpreendem. Contradições surgem. Fatos nos tiram do prumo quando tudo parece estar na "mais perfeita ordem". O contrário também acontece. (E eu agradeço, feliz, pela não-linearidade do mundo!). Li uma vez que o simples bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão do outro lado do planeta. Já avaliaram isso? Ah, não sei não. Não entendo nada de física, nem de escalas temporais. Minha história é outra. Acredito que uma pequena escolha na vida pode mudar muita coisa lá na frente. A dimensão de tal fato? Não sei medir. Mas, por via das dúvidas, me asseguro: acalmo as borboletas que voam na minha barriga e exijo-lhes ordem. Afinal, nunca se sabe o temporal que somos capazes de criar.

sábado, 18 de setembro de 2010

A velhinha do 203

Cansada, molhada com água da chuva e cheia de livros nos braços, a estudante Marcella subiu no ônibus que a deixava na porta de casa, o 203. Não via a hora de chegar, trocar de roupa e descansar um pouco.
Ônibus lotado, porém sobrava um banco com dois espaços. Não pensou duas vezes e sentou-se, aliviando seus braços e pernas que estavam exaustos.
Na parada seguinte, subiu uma velhinha com aparentemente 70 anos. A senhora segurava inúmeras sacolas como se fossem seus bens mais valiosos e andava com uma certa dificuldade em cima de pequenos saltinhos. Por ser o único lugar que sobrara, sentou-se ao lado da estudante que, por sua vez, pegou os livros que estavam esparramados.
Aparentemente, a velhinha era simpática e se apresentou sorridentemente a sua "vizinha":
— Boa tarde, minha jovem, meu nome é Izabel!
— Prazer, Dona Izabel, sou Marcella — respondeu, um tanto exausta, mas com um sorrisinho no rosto.
O assunto acabou por aí. Ônibus cada vez mais lotado e o tempo cada vez mais fechado com fortes trovejos. Pela janelinha aberta, começaram a entrar fortes gotas de chuva que iam ao encontro de Marcella.
A estudante fechou a janela. Dona Izabel levantou-se e a abriu.
Relevando a aparente idade da senhora, Marcella apenas a fechou novamente.
Mas a teimosa senhora abriu as janelas com força.
Tentando obter compreensão da velhinha, Marcella disse:
— Dona Izabel, está chovendo em mim, por isso estou fechando a janela — levantou e repetiu a ação.
— Eu quero a janela aberta! — respondeu, com um ar de arrogância, abrindo-a.
— A senhora tem de compreender que está molhando a mim e aos meus livros!
— É você, mocinha, quem tem de compreender que sou uma senhora e mereço respeito! — resmungou, franzindo a testa e colocando o dedo na ponta do nariz de Marcella.
Irritada, a jovem murmurou:
— Velha chata.

Isso foi o suficiente para que Dona Izabel escutasse e começasse a fazer cena de coitadinha. Começou a reclamar para os outros passageiros sobre a menina, dizendo que sofrera ameaças e simulando uma dor no peito, ocasionando um grande alvoroço dentro do 203.
A velha começou a gritar:
— Foi essa menina! Ela que falou barbaridades para mim, uma frágil senhorinha...
Marcella, sem entender grande parte do que estava acontecendo, perguntou:
— Eu o quê? — batendo os livros com força.
— Você...você...você... — ficou sem palavras e mais uma vez simulou — ai meu peito!
Todos olhavam a estudante com ar de desprezo e cochicharam ente si. Mandaram o motorista parar o ônibus e a jogaram no meio da rua, na chuva e sem seus preciosos livros.


Conto feito para a faculdade - segundo semestre.
Cristiane Challoub