sábado, 6 de agosto de 2011

De volta ao sólido

Cris Challoub

Sim, ele estava na boa, sumiu uns oito meses, mas pela falta que te fazia era possível resolver uma equação de segundo grau para descobrir o x'' de tempo da questão. Você teve de se acostumar, claro, afinal é seu amigo e o que você quer é a felicidade dele com quem quer que seja, correto? Errado! Ele te esqueceu, não deu notícias, te matou de preocupações e saudades, e agora ressurgiu na maior cara-de-pau-da-pior. "Eu te falei, irmão...", é isso que você pensa quando ele liga e você deixa as ligações cairem na caixa postal pra ele ver como você tem novos amigos ou está com um novo alguém.
As pessoas são engraçadas; engraçadas até demais. Grande parte delas deveria atuar em programas humorísticos em vez de nos colocar em papeis de palhaços. Amizade, além de compartilhamento de problemas deveria ser de felicidade, mas não, é só surgir um tiquinho de brilho no olhar para todos entrarem em estado de evaporação e depois fazer uma condensação, assim, do nada. E você sabe que no fundo, bem lá no fundo, a sua vontade é que volte a ser sólido.
Você não é um idiota, talvez seja quando percebe que a sua falsa mudança para Júpiter não dará certo enquanto sua cabeça continuar na Terra. Claro, eu sei, você irá se convencer que é tudo uma questão da curiosidade ser maior que o seu x'' de tempos em sofrimento. Tenta se convencer, também, que as únicas coisas que você quer é saber porque terminou, quantas vezes broxou e se ela o levava nas nuvens.
Mais mil e uma ligações caem na caixa postal. "Vamos ver se dessa vez ele aprende que não deve abandonar amigos por nada, nem ninguém", mais outras mil ligações até que o 'amigos para sempre' é maior do que a vontade de alimentar o ego. Você atende e 'estava morrendo de saudades' é a primeira coisa que diz.