sábado, 18 de setembro de 2010

A velhinha do 203

Cansada, molhada com água da chuva e cheia de livros nos braços, a estudante Marcella subiu no ônibus que a deixava na porta de casa, o 203. Não via a hora de chegar, trocar de roupa e descansar um pouco.
Ônibus lotado, porém sobrava um banco com dois espaços. Não pensou duas vezes e sentou-se, aliviando seus braços e pernas que estavam exaustos.
Na parada seguinte, subiu uma velhinha com aparentemente 70 anos. A senhora segurava inúmeras sacolas como se fossem seus bens mais valiosos e andava com uma certa dificuldade em cima de pequenos saltinhos. Por ser o único lugar que sobrara, sentou-se ao lado da estudante que, por sua vez, pegou os livros que estavam esparramados.
Aparentemente, a velhinha era simpática e se apresentou sorridentemente a sua "vizinha":
— Boa tarde, minha jovem, meu nome é Izabel!
— Prazer, Dona Izabel, sou Marcella — respondeu, um tanto exausta, mas com um sorrisinho no rosto.
O assunto acabou por aí. Ônibus cada vez mais lotado e o tempo cada vez mais fechado com fortes trovejos. Pela janelinha aberta, começaram a entrar fortes gotas de chuva que iam ao encontro de Marcella.
A estudante fechou a janela. Dona Izabel levantou-se e a abriu.
Relevando a aparente idade da senhora, Marcella apenas a fechou novamente.
Mas a teimosa senhora abriu as janelas com força.
Tentando obter compreensão da velhinha, Marcella disse:
— Dona Izabel, está chovendo em mim, por isso estou fechando a janela — levantou e repetiu a ação.
— Eu quero a janela aberta! — respondeu, com um ar de arrogância, abrindo-a.
— A senhora tem de compreender que está molhando a mim e aos meus livros!
— É você, mocinha, quem tem de compreender que sou uma senhora e mereço respeito! — resmungou, franzindo a testa e colocando o dedo na ponta do nariz de Marcella.
Irritada, a jovem murmurou:
— Velha chata.

Isso foi o suficiente para que Dona Izabel escutasse e começasse a fazer cena de coitadinha. Começou a reclamar para os outros passageiros sobre a menina, dizendo que sofrera ameaças e simulando uma dor no peito, ocasionando um grande alvoroço dentro do 203.
A velha começou a gritar:
— Foi essa menina! Ela que falou barbaridades para mim, uma frágil senhorinha...
Marcella, sem entender grande parte do que estava acontecendo, perguntou:
— Eu o quê? — batendo os livros com força.
— Você...você...você... — ficou sem palavras e mais uma vez simulou — ai meu peito!
Todos olhavam a estudante com ar de desprezo e cochicharam ente si. Mandaram o motorista parar o ônibus e a jogaram no meio da rua, na chuva e sem seus preciosos livros.


Conto feito para a faculdade - segundo semestre.
Cristiane Challoub

Nenhum comentário:

Postar um comentário