sábado, 25 de junho de 2011

Tempero da felicidade

Cristiane Challoub

Às vezes sentia a felicidade distante. Sentia-me fugindo dela, como se fosse um sentimento perigoso ou mesmo uma sensação misteriosa, mas reparei que do que eu fugia não era da felicidade mas sim da felicidade figurativa, aquela instantânea, que logo vem e vai.
Felicidade instantânea é que nem miojo, o prazer e o chamado 'matar' fome acontecem em instantes, um passe de mágica onde você precisa de água, panela e fogo, muito fogo, pra se ter o que queria. Mas e o sabor da saudade disso tudo, onde fica? Nos dedos nunca cortados? Na observação do tempero nunca tida? Na imaginação para novos agrados dos pratos nunca feitos? Aí você repara que não tem donde tirá-la porque não teve a espera dos tomates cozinharem e nunca sentiu borboletas no estômago de ansiedade. Essa é a realidade da felicidade instantânea, começo intensificado e quando deveria estar saboreando, já acabou. Fujo de tudo isso. Gosto de moldar, colocar a mão na massa e misturar doce com salgado, tremer as pernas embaixo da mesa esperando um elogio. Sentir todo o sabor de uma paixão, sentir a felicidade diariamente, periodicamente, loucamente, nas nuvens.
Com o tempo aprendemos os cinco temperos consecutivos para aderir a verdadeira felicidade: o olhar, as palavras, um abraço e um perfume, o que resulta no paladar.

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