sábado, 4 de junho de 2011

Recomenda-ações

Cristiane Challoub

Juro, não foi assim que imaginei que seria. Mas foi, foi assim. Tão assim que não posso explicar. Talvez o que me faltou fazer foi o tato, ou aquele telefonema surpresa na madrugada com uma rasgação de seda. Tá certo, não sou assim, agora dá pra você entender? Talvez a conquista tenha que começar por mim. Começamos, claro, pelo meu espaço. Meu espaço é meu, não seu, não invada, gosto de ficar sozinha. Às vezes choro na madrugada, e não quero ombro, nada, ninguém, no máximo meu celular. Eu e meu celular, meu celular e eu. Isso não te inclui, entende? Não inclui também as suas mensagens melodramáticas, nem uma ligação enquanto tento relaxar do meu dia que foi um tanto... inútil. O segundo passo são as surpresas. Quando eu digo surpresas, não digo flores, nem carros alegóricos simulando o seu amor e pixação na parede com declaração. Não, não, não ouse fazer isso, vou querer te matar, ou te enterrar vivo, ou não te ver nunca mais, ou dizer que isso tudo é balela, que eu não acredito e não acreditarei, nunca, em nada disso. As surpresas tem de ser surpreendentes. Me convide para nadar com tubarões, quem sabe eu não topo? Posso te chamar de louco, mas posso aceitar e te achar a pessoa mais incrível com a ideia mais surreal. Aprecio o surrealismo, mas nada que seja forçado. Abraço forçado, convite forçado, sorriso forçado, nada disso tira os meus pés do chão.
O terceiro degrau é fácil. É só você chegar assim, de mansinho, me ganhando devagar, sem tentar arrombar portas, janelas, sem tentar fazer com que eu perca o sono. Se eu perder o sono por você, já era. Quanto menos durmo, com mais mau humor fico. E com mais mau humor, maiores a chances de te recusar, odiar suas palavras e vou chegar a conclusão de que você gesticula demais quando fala. Odeio que gesticulem. Gosto da calmaria, mas não tão calma assim, uma calmaria de espaço, coisa que se aprende com o tempo, mas não pode demorar pra aprender, ok? Senão me cansa, me mata de tédio, monotonia. Me mata de sentir qualquer coisa por ti. Te mata em mim.

Agora o quarto e último andar: não siga minhas recomendações. Quebre todas as regras, lembra quando eu disse que gosto de ser surpreendia? Então, talvez isso quebre as minhas pernas e faça com que eu caia assim, levemente, em seus braços.

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